A pólio não pode voltar

Foto: arquivo/OPAS

A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil ou pólio, já foi sinônimo de medo no Brasil. Nos anos 1970 e 1980, campanhas de vacinação em massa transformaram o país, culminando com o último caso registrado em1989. Contudo, o que parecia uma vitória definitiva agora enfrenta novos desafios.

Será que o sucesso do passado nos deu uma falsa sensação de segurança, levando ao esquecimento de que o vírus ainda é uma ameaça e enfraquecendo o senso de urgência em manter as altas taxas de vacinação?

O vírus selvagem, ainda endêmico no Afeganistão e no Paquistão, e o recente aumento de sua disseminação em amostras ambientais mostram que a ameaça de exportação é real. A Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, com apoio do Rotary International, segue atuando, mas o Brasil precisa manter vigilância constante e rigorosa. A Organização Pan-Americana da Saúde classifica o país com alto risco para a volta da pólio, alerta que não pode ser ignorado.

Uma das maiores preocupações hoje é a hesitação vacinal, alimentada por desinformação e fake news. Em vez de nos protegermos, abrimos espaço ao retorno da doença. As ações para recuperar a cobertura vacinal estão à altura desse desafio?

A partir de 2015, a cobertura vacinal vem caindo, e o auge da pandemia de Covid-l9 agravou a tendência. Apesar dos esforços em andamento, ainda há muito a fazer. A queda chegou a níveis alarmantes em diversas regiões do país. Num mundo onde a desinformação se espalha mais rápido que as evidências científicas, as campanhas de vacinação têm de se adaptar. Onde estão as estratégias modernas e eficazes para engajar a nova geração e combater as inverdades? Os desafios mudaram, e as ações também precisam evoluir.

A decisão do Ministério da Saúde de substituir as famosas “gotinhas” pela vacina injetável, em novembro, é um avanço importante, pois reduz o risco de paralisia associada ao vírus vacinal modificado. Entretanto a transição precisa ser comunicada de forma clara e eficiente. As “gotinhas” têm forte simbolismo. São representadas pelo icónico Zé Gotinha, que continuará como símbolo da luta para proteger nossas crianças.

O sucesso nas campanhas de vacinação não se deu por acaso. Foi fruto de esforço coletivo. Em1988, estimavam-se 350 mil casos de poliomielite em mais de 125 países endémicos, com redução de mais de 99% até hoje. Cada um de nós deve fazer sua parte para garantir que as futuras gerações estejam protegidas. Chegamos a um ponto em que a vacinação não pode mais ser tratada apenas como questão de saúde pública, mas também como compromisso ético com o bem-estar de todos.

A pólio ainda pode voltar e, sendo um vírus sem cura, a única resposta possível é a prevenção. Às vésperas de 24 de outubro, Dia Mundial de Combate à Poliomielite, fica o lembrete de que, enquanto houver poliovírus circulando, o risco permanece. Vacinar não é uma escolha, é um ato de proteção e uma responsabilidade coletiva que deve ser encarada com seriedade.

Fonte: artigo publicado no jornal O Globo (17/10/2024), por Leonardo Weissmann, mestre em doenças infecciosas e parasitárias pela USP, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, professor de medicina da Universidade de Ribeirão Preto e integrante do Rotary Club de São Paulo-Aeroporto

 

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Vacinas salvam vidas.
Quem ama, vacina.

O Rotary acredita no poder da vacina e no combate à paralisia infantil

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